Quando a pele está visivelmente viçosa, as pessoas costumam elogiá-la dizendo que parece ser como a “de um bebê”. O que muitos não sabem, porém, é que a pele infantil requer muito mais cuidados para não desencadear doenças futuras.
Recentemente, os departamentos científicos de dermatologia e de neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgaram um documento científico com atualização sobre os cuidados com a pele do recém-nascido. A publicação atualiza tratamentos e recomenda cuidados com a pele infantil – sobretudo – no período neonatal.
Mas qual é a real diferença entre a pele infantil e a do adulto?
A pele é o maior órgão do corpo humano. Composta por três camadas (epiderme, derme e tela subcutânea), ela é responsável por várias funções, dentre as quais se destacam evitar a desidratação, a absorção de substâncias nocivas e a invasão de microrganismos. Em crianças, a camada mais externa – conhecida como córnea – tem uma menor dimensão que a dos adultos.
“Isso facilita a penetração dos agentes infecciosos em camadas mais profundas e, consequentemente, o aumento da susceptibilidade às infecções e dermatites”, explica a Dra. Roberta Virna, pediatra da Vibe Saúde, em entrevista ao Inspire Bio.
Leia abaixo a entrevista completa com a profissional e entenda mais sobre as distinções da pele humana.
Qual é a diferença entre a pele de uma criança e de adultos?
A pele das crianças tem um quinto da espessura da pele de um adulto. Ela tem o mesmo número de camadas, mas cada camada é consideravelmente mais fina, o que a faz mais delicada e sensível. As crianças têm uma camada córnea de menor dimensão que a dos adultos, facilitando a penetração dos agentes infecciosos em camadas mais profundas e, consequentemente, o aumento da susceptibilidade às infecções e dermatites.
Na criança a relação entre o peso e a superfície corporal é cinco vezes maior do que no adulto, o que, associado a uma camada córnea mais fina, faz com que a absorção de medicamentos aplicados na pele e seus efeitos sistêmicos sejam muito maiores.
A impermeabilização da pele pela queratina, ajuda também a manter a hidratação da pele, mas como as crianças têm a camada córnea mais fina, isso predispõe a desidratação.
Outra diferença entre a pele infantil e a do adulto é que na criança há uma menor coesão entre as células, comparada a dos adultos e por esse motivo, as crianças têm uma maior propensão à formação de bolhas e vesículas. Além disso, a pele da criança é muito mais fotossensível que a dos adultos, o que facilita o surgimento de queimaduras.
Quais os principais cuidados que se deve ter com a pele infantil?
Deve-se evitar as condições ambientais desfavoráveis como fazer a limpeza adequada para evitar ação de irritantes tópicos, em particular o contato com urina e fezes. O que nos leva ao óbvio, lavar com água. As fezes têm impurezas que são lipossolúveis e aí se usam sabões, mas que se não tiverem o PH adequado podem danificar a pele sensível das crianças.
Por isso se deve usar produtos e medicamentos desenvolvidos para a pele da criança. É recomendado sempre consultar o pediatra ou o dermatologista, pois eles saberão o que é mais apropriado, a concentração certa do produto e o tempo seguro e correto de uso, que é diferente dos que são usados para a pele do adulto.
A pele nos primeiros anos de vida tem menos pigmentação e não é capaz de produzir melanina suficiente para se proteger da ação da exposição solar, portanto deve-se evitar a exposição aos raios solares até os seis meses de vida e após esta idade, a exposição deve ser protegida com períodos curtos e em horários mais seguros.
Quais produtos não são recomendáveis para crianças?
Talcos, pois promovem o risco de aspiração acidental nos bebês, levando a irritação, pneumonite e fibrose pulmonar. Além disso, o pó do talco em contato com o suor do bebê pode formar uma pastinha que promove a proliferação de bactérias.
Também não se deve usar sabões que não sejam infantis. Mas até mesmo esses tipos de produtos feitos especialmente para crianças devem ser usados apenas 2x/dia no máximo, pois, mesmo glicerinados, podem promover a remoção da camada lipídica da pele e levar a ressecamentos e irritações. Sabonetes antissépticos também não devem ser utilizados, pois não há vantagem comprovada em sua utilização e podem irritar a pele das crianças.
Os lenços umedecidos de limpeza também devem ser evitados. Apesar de serem práticos, promovem a remoção do filme lipídico da pele e podem causar dermatite de contato. Se forem usados ocasionalmente, em alguma saída do bebê, a área onde tiveram contato com o produto deve ser enxaguada em seguida. Melhor evitá-los.
É importante salientar que não se deve usar cosméticos de adultos em crianças abaixo de 12 anos.
Quais são as ‘fases’ da pele de uma criança? O que se pode ou não usar em cada idade?
Na fase de bebê a pele é mais fina, delicada e sensível, pois a camada córnea é mais delgada e as células são menos compactadas que na pele adulta. Sendo assim, a função de barreira está comprometida e a pele do bebê é menos resistente, vulnerável a substâncias químicas, influências físicas e microbianas, propensa ao ressecamento e mais sensível aos raios UV.
Por volta dos 4 anos de idade, a pele e seus anexos (tais como cabelo, unhas e glândulas) ficam um pouco mais maduros. Mas ainda é mais fina e tem menos pigmentação do que a pele adulta. Devido aos mecanismos de autoproteção serem menos desenvolvidos, a pele infantil ainda é particularmente sensível à radiação. Por volta dos 12 anos de idade, a estrutura e as funções da pele da criança já correspondem à do adulto.
Tanto na fase de bebê quanto na fase de criança (antes dos 12 anos) deve-se evitar dermocosméticos ou produtos com substâncias reativas como o álcool, parabenos e fragrâncias a fim de se evitar qualquer reação alérgica.
Existe alguma substância que não deve ser usada – em nenhuma ocasião – na pele das crianças?
Produtos à base de óleos minerais (petrolato e vaselina), banidos na Europa, porque podem estar contaminados com produtos cancerígenos. Já em nosso país, muitos produtos para bebês são à base de óleo mineral. Portanto prefira os de origem vegetal. Você pode encontrar esta informação nos rótulos dos produtos.
Muitas formulações vêm com a determinação de que não sejam usadas nem por crianças e nem idosos. A pele se assemelha nessas faixas etárias?
Sim. Como os bebês, a pele do idoso se torna mais frágil, com tendência a ressecamento, com a sensibilidade aos raios UV aumentada e com sua imunidade reduzida, tornando-a mais suscetível a infecções e lesões.
Como a proteção solar é indicada em crianças?
A proteção solar é indicada a partir dos 6 meses, com protetores infantis específicos, com o mínimo de filtros químicos. Quando a criança for à praia ou à piscina e já for brincar na água fica difícil reaplicar o protetor com frequência, então o ideal é utilizar fotoprotetor infantil com filtros físicos em sua formulação, reaplicado a cada 30 minutos. O fator 30 é o mais indicado para bebês e crianças pequenas, pois acima disso a quantidade de substâncias químicas é maior e o risco não compensa a proteção.
Muitas marcas têm linhas de cremes e óleos para crianças? É mesmo necessária a hidratação da pele infantil?
Não há necessidade de hidratar a pele das crianças. A hidratação da pele infantil é necessária somente em casos específicos, quando a pele for muito seca ou em certas doenças, como a dermatite atópica. Mas o ideal é que sejam usados apenas produtos prescritos pelo seu pediatra ou dermatologista. Para ser eficaz ele deve ser aplicado até 3 minutos após o banho.
Quais são os produtos recomendados para a higiene pessoal das crianças?
Deve-se usar shampoos e sabonetes infantis, de preferência os líquidos, que possuem um PH entre 4,5 e 6,5. No lactente de baixa idade, que possuem os cabelos curtos finos e frágeis, pode ser usado o mesmo produto para limpeza do corpo e da cabeça. Os produtos devem ser suaves e apenas levemente detergentes para não arder nem irritar os olhos e nem agredir os cabelos nem o couro cabeludo. A quantidade aplicada deve ser mínima e deve se enxaguar com água em abundância.
Dispense o uso de colônias, talcos e perfumes.
Dra. Roberta Virna, médica com residência em pediatria, título de especialista em pediatria e título de especialista em medicina de família e comunidade atuando ativamente nas duas áreas.
Sobre a Vibe Saúde
A Vibe Saúde é líder em saúde digital B2C no Brasil. Sua missão é transformar a saúde do País, com atendimento online humanizado, a preços acessíveis aos brasileiros que não contam com uma saúde de qualidade. Por meio de sua plataforma digital/app, oferece atendimentos gratuitos imediatos e consultas agendadas com médicos da família e um corpo clínico com diferentes especialidades e enfermeiros, além de oferecer cuidados de saúde mental para seus pacientes e funcionalidades de bem-estar. A empresa também oferece serviços personalizados no B2B. Desde o lançamento da plataforma em julho de 2020, a Vibe atingiu mais de 2,7 milhões de downloads e tem a expectativa de atingir 1 milhão de consultas até o fim de 2021. Em janeiro, recebeu a maior rodada (Series A) registrada no Brasil para uma startup de saúde digital, com um aporte de R$ 54 milhões.